Art des Projektes: Eigenmittelprojekt
Laufzeit: 01.02.2023 - 31.12.2024
A
mobilidade acadêmica entre Brasil e Portugal sempre foi um tema de
interesse de pesquisadores do campo da educação superior em ambos os
lados do Atlântico. Até a fundação das primeiras instituições de
educação superior (IES) no Brasil, Portugal permaneceu o principal
destino de formação acadêmica superior (Cunha 2007). No final século XX,
o número de estudantes e membros do corpo docente que realizaram
intercâmbio internacional aumentou exponencialmente e ambos os países
investiram na promoção e financiamento da mobilidade internacional com o
objetivo de oferecer novas experiências e conhecimentos (acordos
bilaterais e multilaterais, programas internacionais e convênios
institucionais). Mais recentemente, com um foco maior na
internacionalização da educação superior, o intercâmbio internacional de
estudantes, professores e pesquisadores recebeu ainda mais atenção. Ao
mesmo passo que o intercâmbio acadêmico foi promovido como modalidade de
estudos com pluralidade de pensamentos, tendências científicas e visões
de mundo, contribuindo para a formação de cidadãos e cidadãs com uma
perspectiva global, a mobilidade internacional também passou a ser vista
como fonte de renda para as IES e como investimento nacional (econômico
e soft power diplomacy) (Li 2018; Hartmann 2015, 2008). Internacionalmente,
a pesquisa em educação, e principalmente no campo da educação superior,
tem se dedicado ao tema, contribuindo com o debate a respeito dessa
nova modalidade de intercâmbio internacional de caráter mais econômico e
instrumental (Rizvi 2019, 2013; Robertson et al. 2016; Altbach &
Knight 2007). O tema, porém, tem recebido menor atenção a partir de uma
perspectiva crítica à comercialização da educação e principalmente de
uma perspectiva decolonial/pós-colonial (Reiter 2019; Mignolo 2002).
Ainda assim, nos últimos anos, a pesquisa comparada sobre educação
superior proporcionou discussões profícuas a respeito dessas
transformações, cunhando o termo geopolítica do conhecimento (Parreira
do Amaral & Thompson 2022). O termo relaciona duas perspectivas
sobre o tema: por um lado, o interesse comercial na educação superior
internacional, e por outro, a necessidade de superação de antigas
estruturas e práticas coloniais e de combate de novos tipos de
dependência.
Nova Geopolítica do Conhecimento “refere-se à integração do ensino
superior na imaginação e nos cálculos de diferentes agentes com o
objetivo de afirmar e/ou melhorar as suas posições na economia global
baseada no conhecimento.” (Parreira do Amaral 2022, p. 36) O termo
também faz referência a uma discussão do início da década de 1990, na
qual vários estudiosos se referiram à ‘geopolítica do conhecimento’ para
criticar o que alguns caracterizaram como uma "crítica eurocêntrica da
modernidade" (Dussel 1993; Mignolo 2002). De acordo com Walter Mignolo, a
expansão planetária do capitalismo ocidental também implicou a expansão
da epistemologia ocidental (Mignolo 2002, p. 59), e, eventualmente, das
ciências sociais. A partir desta ótica, torna-se necessário examinar se
e como estruturas de intercâmbio internacional na educação superior
podem estar mantendo e/ou criando novas estruturas e práticas coloniais.
Devido aos vínculos históricos que marcam a formação
sociocultural de ambos os países, a mobilidade transatlântica entre
Brasil e Portugal – em meio as muitas categorias de mobilidade humana
como migrações de retorno e pendulares – nos oferece uma oportunidade de
compreender de forma expressiva as heranças e os atuais desafios da
educação superior tomando como referência a nova geopolítica do
conhecimento. A partir de uma perspectiva comparada e internacional, o
Simpósio se propõe a discutir analítica e empiricamente a mobilidade
transatlântica e o intercâmbio acadêmico entre Brasil e Portugal
abordando os seguintes focos temáticos: 1. Relações e confrontos epistemológicos e políticos:
Tematizado será a natureza e caráter dos planos curriculares dos
programas de pós-graduação, posicionamentos epistemológicos, relações
interpessoais. Qual é a contribuição destes elementos para a superação e
ou reprodução de estruturais (neo)coloniais, de injustiça e violência
simbólica e material? Quais discursos e/ou práticas performativas (entre
outras) são encontradas? 2. Estruturas e Ações conjuntas de Mobilidade entre Brasil e Portugal:
Este foco examina os programas e modalidades de intercâmbio abertas aos
diferentes grupos (doutorandas/os, pós doutorandas/os, docentes); as
experiências e racionalidades de intercambistas, corpo docente, e
responsáveis pelas estruturas institucionais de internacionalização de
algumas universidades. 3. Mobilidade Transatlântica em Doutorados, Teses e Temas:
Neste foco está a mobilidade transatlântica a partir de seus
resultados, isto é, das teses e dos temas nas pesquisas de doutoramento.
O que sabemos sobre os resultados (conclusão, dropout etc.)? Quais as
perspectivas teóricas adotadas nas teses de conclusão de cursos de
pós-graduação em educação?; quais os temas?
Stichwörter: Hochschulbildung; Mobilität; Postkolonialismus; Brasilien; Portugal